Repensando a inclusão financeira: Para além dos meios de pagamentos digitais

A inclusão financeira é um tema amplamente debatido, porém muitas vezes a discussão se restringe à inclusão de pagamentos digitais. No entanto, a verdadeira inclusão financeira vai muito além disso. De acordo com o Banco Mundial, a inclusão financeira consiste em garantir que indivíduos e empresas tenham acesso a produtos e serviços financeiros úteis e acessíveis, como empréstimos e seguros, de maneira responsável e sustentável. Infelizmente, a maioria das pesquisas e debates sobre o assunto focam apenas nos pagamentos, negligenciando outros serviços financeiros essenciais.

O setor financeiro desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico e na prosperidade das comunidades. É crucial que esse setor assuma o compromisso de atender às necessidades financeiras das populações, oferecendo uma ampla gama de produtos e serviços. O acesso universal a essa oferta é essencial para o crescimento e a estabilidade econômica. Portanto, é importante promover soluções que superem as barreiras que tendem a excluir parte da população, especialmente os estratos mais pobres – por meio de Programas de Inclusão Financeira. Para isso, é fundamental estabelecer mecanismos e indicadores para monitorar e avaliar de forma rigorosa e regular a evolução do processo de inclusão.

As razões que contribuem para a exclusão financeira são diversas e podem estar relacionadas à acessibilidade dos pontos de venda, à inadequação dos produtos em termos de especificidades e preço, e a falta de conhecimento sobre as vantagens dos produtos financeiros. De acordo com um estudo do Banco Mundial, cerca de 20% dos entrevistados citaram a falta de documentação e a distância física das agências como razões para não possuírem conta em instituições financeiras. Os custos associados à manutenção de conta e as transações foram apontados por 25% dos entrevistados. Por exemplo, em Serra Leoa, os custos anuais de manutenção de uma conta corrente correspondem a cerca de 27% do PIB per capita. Entre todas as razões identificadas, a falta de recursos financeiros é a mais significativa. Aproximadamente 65% dos entrevistados mencionaram a falta de dinheiro como motivo para não terem conta bancária, sendo que metade deles considera isso como a única razão.

Acompanhando a evolução da economia brasileira, a inclusão financeira ganhou destaque durante a década de 1990, tornando-se um dos principais focos de atuação do Banco Central do Brasil (BCB). Com o objetivo de promover o alinhamento e o compromisso de todas as entidades públicas e privadas interessadas na inclusão financeira, foi criada a Parceria Nacional para a Inclusão Financeira. Como resultado dessa parceria, foi elaborado um Plano de Ação para fortalecer o ambiente institucional e impulsionar o processo de inclusão.

As ações desenvolvidas e a serem desenvolvidas concentram-se em três dimensões-chave:

  1. Expansão e consolidação dos canais de acesso;

  2. Desenvolvimento da oferta de produtos e serviços;

  3. Promoção da educação financeira.

Poucos conhecem, mas o Banco Central do Brasil possui um dos melhores programas de inclusão financeira do mundo, denominado “Cidadania Financeira”. Esse conceito envolve os direitos e deveres do cidadão em relação à sua vida financeira.

Para o BCB, a educação, a proteção e a inclusão financeira contribuem tanto para a cidadania financeira quanto para a eficiência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e para a estabilidade econômica do país. O programa é estruturado em quatro pilares: Inclusão Financeira, Educação Financeira, Proteção do Consumidor e Participação.

Para aqueles que atuam diretamente no sistema financeiro, é fácil perceber e compreender o futuro delineado pelo Banco Central ao analisar esses pilares. O surgimento de fintechs, do Pix, Open Finance, Transferências Inteligentes e outras inovações se encaixam perfeitamente nas estratégias da Cidadania Financeira.

Sem dúvida, as empresas de inovação do setor financeiro que mais estão prosperando e seguindo em direção ao futuro são aquelas alinhadas com os pilares apresentados.

Ainda há muito por vir em termos de inovação, teremos a consolidação dos meios de pagamento, maturidade da área de crédito e a Educação Financeira vai ganhar uma notoriedade surpreendente nos próximos anos – um mar de oportunidades.

Agora, é hora de dar um passo além. A convergência dos meios de pagamento é o momento em que cartões de crédito, débito, Pix e até mesmo criptomoedas se encontram em uma única funcionalidade. O Brasil lançou o DREX e outros países indo para o mesmo caminho. A economia global passa a ser “tokenizada” e tecnologias como Blockchain e estruturas DeFi (finanças descentralizadas) ganham mais espaço e importância para a convergência digital financeira. A rede de mensagens bancárias SWIFT, conhecida para as operações de transferências de valores internacionais, já está se modernizando para suportar operações em blockchain e operar de forma diferente da atual, convergindo para um modelo mais ágil e seguro.

Imagine poder pagar, transferir ou receber valores, independentemente da forma de pagamento escolhida, com apenas uma ação. Essa convergência trará mais praticidade e simplicidade para as transações financeiras do dia a dia. E o Brasil está na vanguarda dessa revolução, sendo um dos países mais evoluídos nesse quesito.

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